Por que precisamos ser mais LGBTQ

Por Guilherme Genestreti, Pedro Diniz e Silas Marti

Há quem diga que os 19 trios elétricos e os milhões de convidados da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que acontece neste domingo (18), transformaram o evento numa grande micareta. Também há quem acredite que os tempos mudaram e que, por isso, eventos assim são mais um custo desnecessário e passível de corte –a falta de verba para a parada do Rio sob a gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB-RJ) é bom exemplo desse conceito.

A verdade, haja vista o noticiário político, econômico e, principalmente, policial, é que nunca foi tão urgente dar visibilidade e voz para questões da diversidade sexual.

A recente mobilização da comunidade LGBTQ*, que só há 48 anos saiu do armário para o mundo, durante as manifestações de Stonewall, em Nova York, promoveu tantas conquistas quanto uma escalada da homofobia. O Brasil, por exemplo, com a fama de bom anfitrião e cartão-postal da alegria, responde com tiros, pauladas e lâmpadas quem pensa e age diferente de um ideal heteronormativo.

Só no ano passado, estima-se que 343 homossexuais tenham sido assassinados no país vítimas de um preconceito que talvez sempre tenha existido, mas agora tem nome próprio e certidão de óbito registrada.

Direitos conquistados recentemente como a união civil entre pessoas do mesmo sexo e o uso do nome social para servidores públicos transgêneros, travestis e transexuais, são eclipsados por uma agenda conservadora desenhada em um congresso que discute a “cura gay” enquanto engaveta projeto de criminalização da homofobia, mal enraizado em uma sociedade claramente machista e patriarcal como a brasileira.

Os ganhos dessa mobilização mundial são postos em xeque a cada emprego negado a transexuais, grupo mais vulnerável do arco-íris, a cada homossexual posto para fora de casa ou do convívio escolar por represálias justificadas com passagens bíblicas descontextualizadas, ignorância e medo.

E tudo indica que no ano que vem a causa LGBTQ será assunto central nas eleições presidenciais com a provável candidatura de um nome como o de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), notório opositor às demandas dessa população.

Paradas como a que acontece neste domingo em São Paulo também ajudam a quebrar preconceito dentro do próprio guarda-chuva de letrinhas que compõem o nosso universo. Elas são, afinal, provavelmente a única oportunidade de reunião entre gays e lésbicas, cisgêneros e transgêneros, bissexuais e heterossexuais… –enfim, grupos tão diferentes e que no resto do ano estão fechados em seus guetos tradicionais.

É claro que se dança, que se flerta e que se celebra além da conta do que seria tido como adequado na visão de quem defende o caráter eminentemente político das paradas. Mas o fervo, é bom que se diga, é também um manifesto político: em décadas de homofobia institucionalizada foram as boates os templos sagrados da nossa causa.

E é pelo medo, os próprios e os dos outros, que se marcha, se grita e, que bom, se dança tanto. 

Boa parada!

*LGBTQ é a sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Trangêneros e “Queer”