Em ‘ano temeroso’, Parada do Orgulho LGBT de SP pedirá voto consciente

A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, uma das maiores do mundo em público, repetirá neste ano o mote de 2010, quando levantou a bandeira do voto por igualdade de direitos. O tema da manifestação, que ocorre em 3 de junho, na av. Paulista, será “Poder para LBTI+: nosso voto, nossa voz”, um pedido para a população escolher candidatos com propostas que incluam a diversidade.

Pelo fato de problemas históricos enfrentados pela comunidade, como discriminação, crimes de ódio e falta de representatividade no poder público, não terem sofrido mudanças significativas na última década, a organização da Parada decidiu voltar à discussão em um “ano temeroso”, segundo definiu um dos sócios-fundadores do evento, Nelson Pereira, citando as eleições de outubro para presidente, deputados e senadores.

“Precisamos entender que, sem representatividade no congresso e na presidência, não conseguiremos formular políticas públicas. Vemos ações bem articuladas de bancadas conservadoras por natureza, por que não temos uma que defenda nossos direitos?”, questiona Pereira.

Ele cita as bancadas evangélica e “da bala”, essa formada por parlamentares a favor de acesso mais abrangente a armas de fogo pela população, como forças políticas atuantes para travar votações e projetos que beneficiam a comunidade LGBT.

“O pior disso é ver homossexuais, uma parcela oprimida da sociedade, apoiando a candidatura desses políticos. É o grande paradoxo LGBT desse nosso tempo, o oprimido defendendo o opressor.”

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à presidência, seria um exemplo desse “opressor” que, “agora, espertamente, tenta incluir uma parcela de homossexuais brancos e de classe média, que não sofreram discriminação, em seu discurso de campanha”.

Em janeiro, à Folha, o deputado federal e presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), afirmou que Bolsonaro representa “liberdades individuais e livre expressão de ideias”.

“Jamais faríamos como o PT, por exemplo, que apoia Cuba, onde homossexuais iam para o paredão”, disse Bivar na entrevista ao jornalista Marco Rodrigo Almeida.

Dois meses antes da entrevista, em novembro de 2017, Bolsonaro teve confirmada a sentença de um processo por declarações homofóbicas. Ele pagou R$ 150 mil porque, em 2011, no extinto programa “CQC” (TV Bandeirantes), afirmou não se preocupar na possibilidade de ter um filho gay pois seus filhos tiveram uma “boa educação”.

A presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, Claudia Regina Garcia, diz que a Parada sempre foi suprapartidária e não apoiará nenhum candidato. Diz, no entanto, que, “como todos os anos, é comum os trios receberem autoridades políticas”.

Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada no Rio de Janeiro no dia 14 deste mês, será lembrada no discurso de Claudia, “tanto por identificação pessoal”, diz ela, “porque assim como eu era negra e lésbica”, quanto por sua pauta em favor dos direitos humanos. A organização espera que outras entidades e associações presentes nos trios homenageiem a vereadora.

A Parada do Orgulho é um dos eventos oficiais da cidade com maior potencial econômico. A prefeitura estima que 20% do público venha de fora da cidade e que movimentem R$ 45 milhões durante a festa.