Rússia é Disney gay se comparada ao Qatar, sede da próxima Copa do Mundo
Mesmo com os esforços de uma parcela jovem da comunidade LGBT em busca de visibilidade no esporte, o futebol e seus dirigentes parecem não estar nem um pouco preocupados com o assunto.
A Rússia pode destilar a homofobia com uma propaganda anti-gay que limita o afeto aos guetos das capitais e abafa agressões físicas, mas se comparada ao Qatar, sede da Copa de 2022, o país é um oásis da expressão homoafetiva.
Até sete anos de prisão é o que espera um homem flagrado trocando carícias com outro. Se um deles for muçulmano, caso de 76% da população qatariana, a lei islâmica (sharia) prevê chibatadas ou pena de morte, embora o recurso não tenha sido aplicado nos últimos anos.
Se para o Mundial deste ano a recomendação do Itamaraty era para que casais gays evitassem manifestações de carinho em público, a do ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, foi um banho de água fria para o torcedor homossexual.
Após o anúncio da Copa 2022, ele recomendou, supostamente em tom de brincadeira, “abstenção” de qualquer atividade sexual.
Por sua vez, o ministro dos Esportes qatariano, Salah bin Ghanem bin Nasser al-Ali, disse à agência Associated Press que estudaria soluções “criativas” para o impasse cultural, mas que “respeitaria as regras do país” . O celibato, até segunda ordem, está mantido.
Assim como a maioria das nações da África subsaariana, os países que margeiam o golfo pérsico têm leis rígidas contra a homossexualidade. As diferenças entre um e outro país do Oriente Médio estão nas interpretações da lei e o quanto de vista grossa cada um faz para a prática de “sodomia”.
O Líbano, por exemplo, até 2012 submetia homossexuais a exames invasivos para comprovar a prática de sexo anal. Atualmente, a capital Beirute é a nova meca gay do mundo árabe e tem uma faixa de areia tão disputada por turistas homossexuais em busca de diversão quanto a de Tel Aviv, em Israel, cidade que o jornal americano “The Boston Globe” já considerou a “mais gay da terra”.
No Qatar as coisas são bem diferentes, e não são apenas casais que poderão enfrentar problemas com a legislação. Solteiros não terão à disposição boates como as das grandes cidades russas, onde mesmo sob tensão é possível desenvolver algum nível de afeto, sexual ou não.
De acordo com o Gays Cruising, site famoso por localizar, com ajuda de usuários, pontos de encontro LGBT em qualquer cidade do mundo, há apenas dois locais na capital Doha onde homens cruzam olhares, enquanto Moscou concentra dez endereços desse tipo.
Os estabelecimentos qatarianos, claro, não são direcionados ao público LGBT. Um deles seria uma das filiais do Caribou Coffee, curiosamente, localizado ao lado do estádio de futebol Jassim Bin Hamad, sede do time Al-Sadd Sports Club.
O site pontua que homens interessados em alguma intimidade devem colocar um lenço vermelho no bolso de trás da calça para serem reconhecidos. A recomendação de Blatter, nota-se, faz algum sentido. Mas, em vez de reprimir a si próprio, porque não abrir os olhos para o óbvio e aceitar que essa próxima Copa não merecerá um real do seu investimento?