Sem patrocínio, Brasil levará número recorde de atletas a ‘olimpíada LGBTQ’
O Brasil terá um número recorde de atletas no Gay Games 2018, que acontecerá do próximo sábado (4) até 12 de agosto em Paris, na França. Mesmo sem patrocinadores, a Espírito Brasil, como foi intitulada a delegação nacional, terá entre 47 e 58 atletas de dez modalidades esportivas.
Não se sabe o número exato de participantes porque, até esta quinta-feira (2), segundo a organização da Paris 2018, oito mulheres do time de futebol feminino aguardavam a liberação de uma verba de patrocínio para bancar suas passagens de avião.
Foi uma alegada falta de dinheiro das empresas e uma espécie de desprezo pela comunidade LGBT por parte das entidades esportivas que a francesa Camille Espagne, representante do Paris 2018 no país, disse ter encontrado durante os dez meses à frente da organização da equipe brasileira.
“Muitas empresas prometeram patrocínio, mas no final não fizeram nada. Tínhamos apenas três bolsas para o Brasil e, infelizmente, não conseguimos levar pessoas a maioria das pessoas que não tinham como pagar os custos da viagem”, diz ela. O objetivo era levar 100 competidores.
Nossa realidade é bem diferente da enfrentada por outras delegações. Só a França, sede do torneio, tem o incentivo da rede de supermercados Franprix, da montadora Renault e do banco BNP Paribas.
Mesmo com o número de participantes abaixo do esperado, Espagne acredita que a delegação voltará com medalhas. Além dos tradicionais atletismo, corrida, maratona e natação, o Brasil participará dos torneios de futebol, esgrima, remo, ciclismo, tênis e vôlei.
Entre os participantes do atletismo estarão Jerry da Costa, recordista dos 5.000 metros na Marcha Atlética, e a primeira equipe canarinha de futebol a participar dos jogos, que começaram em São Francisco (EUA), em 1982.
Após meses de frustrações por conta da falta de dinheiro para montar uma equipe, o time BeesCats Soccer Boys, do Rio de Janeiro, participará com uma escalação de 13 jogadores de diferentes cidades brasileiras que se dispuseram a arcar com os próprios gastos. De última hora, a equipe conseguiu patrocínio da sauna paulistana 269 para cobrir uma parte dos custos.
Entre os competidores está Douglas Braga, 36, ex-jogador profissional e defensor da inclusão de homossexuais em um esporte “heteronormativo como é o futebol”.
“Acho [a participação no Gay Games] um momento histórico, porque seremos julgados pela competência e não mais por nossa sexualidade, como aconteceu com muitos de nós quando nos assumimos”, afirma Braga.
Para ele, a participação do Brasil é uma forma de as pessoas lembrarem qual é a essência do esporte, porque no caso deles não estão envolvidas “cifras, mas a paixão e a entrega que se perderam no país do futebol”. “Nossa participação é quase um ato político.”